Este artigo discute os impactos específicos das mudanças climáticas nas mulheres, sob um prisma interseccional. A interseccionalidade permite que a vulnerabilidade climática de gênero seja abordada em conjunto com a racial, de modo que o conceito de racismo ambiental também compõe a análise. A partir disso, justiça ambiental e climática entram como horizontes éticos e políticos, que guiam as ações de mulheres em três movimentos analisados.
O primeiro é o ecofeminismo, enquanto movimento teórico e político, com um breve histórico e principais contribuições para compreender a relação entre movimentos feministas e ambientalistas. O segundo é a Marcha das Margaridas, expressão fundamental das mulheres do movimento campesino brasileiro, que inclui as soberanias alimentar, hídrica e energética em suas pautas de luta. O terceiro é o Movimento Interestadual de Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), que alia a proteção da biodiversidade — fundamental para o enfrentamento
às mudanças climáticas — com a garantia de direitos para populações tradicionais. Os dois últimos movimentos têm na litigância climática uma ferramenta estratégica para atingir seus objetivos, ainda que a relação com o poder estatal possua suas contradições, uma vez que o Estado, por um lado, é garantidor de direitos (por isso, o acesso através da litigância), e, por outro, é perpetrador de violações de direitos.