2ª temporada

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Episódio 6 “Povos indígenas, soluções baseadas na natureza e desenvolvimento sustentável no Brasil”

SINOPSE: No contexto do enfrentamento da crise climática e da crescente perda de biodiversidade, tem-se buscado soluções cada vez mais inovadoras, que permitam que os países diminuam sua vulnerabilidade e aumentem a resiliência climática. As chamadas Soluções Baseadas na Natureza (SbN) têm ganhado atenção científica e política, fazendo parte da agenda global de desenvolvimento sustentável, ao trabalhar com a natureza, inspirando-se nela e, em certa medida, copiando-a, na medida em que visam atender objetivos ambientais, sociais e econômicos. Estudos apontam que 37% das metas fixadas no Acordo de Paris poderiam ser atingidas a partir das chamadas Soluções Baseadas na Natureza (Griscom et el., 2017) – o que apenas confirma o seu potencial no enfrentamento das crises climática e de perda de biodiversidade.

Esse é um conceito bastante amplo, oficialmente cunhado pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, em inglês), e que abarca uma série de medidas relacionadas, por exemplo, à restauração e à conservação de ecossistemas, aos serviços de adaptação climática, à infraestrutura natural e ao gerenciamento de recursos naturais.

As Soluções Baseadas na Natureza têm sido particularmente importantes nos centros urbanos. Estudo lançado em 2019 pelo World Resources Institute (WRI) e encomendado pela Comissão Global de Adaptação aponta um caminho para aumentar a resiliência dos centros urbanos, e entre as recomendações mais importantes está o uso de SbN como resposta a alagamentos, calor extremo e outros desafios. Ainda segundo o WRI, algumas dessas soluções que podem fazer parte do planejamento urbano incluem, por exemplo, árvores e espaços verdes para amenizar o efeito de ilha de calor; hortas urbanas que ajudam a reter a água, além de fortalecer comunidades de bairro e estimular a conservação; mais superfícies permeáveis e áreas úmidas que permitam o escoamento natural das chuvas; e proteção e restauração de ecossistemas naturais em área costeiras.

Vale observar, ao mesmo tempo, que povos indígenas e comunidades tradicionais estão na linha de frente quando o assunto é o combate às mudanças climáticas e à perda de biodiversidade, e isto, também através do que é comumente chamado de SbN. O uso sustentável da terra e dos recursos naturais por povos indígenas e comunidades tradicionais é condição fundamental para a reprodução social, cultural, espiritual, ancestral e econômica desses povos. Estudos têm mostrado que territórios indígenas na Amazônia e áreas de proteção têm contido as taxas de desmatamento e de degradação florestal, contando com alta biodiversidade e, em consequência, com provisão de serviços de regulação climática e hídrica (Walker et el., 2020). Em 2014, territórios indígenas e áreas de proteção foram os que apresentaram as menores taxas de desmatamento, de 2%, e uma baixa incidência de fogo (Nogueira et el., 2018). Esses dados apontam, portanto, para o protagonismo milenar desses povos quando o assunto é criar alianças com a natureza, apoiando-se nela, e tendo como objetivo a manutenção da própria vida no planeta.

No entanto, quando tratamos de Soluções baseadas na Natureza, essa relação simbiótica entre as práticas de povos indígenas e comunidades tradicionais e a natureza não é necessariamente reconhecida, o que pode gerar problemas, tais como o não envolvimento pleno desses atores na criação de uma agenda global de desenvolvimento sustentável inspirada nas SbN.
O sexto e último episódio da segunda temporada tem então como objetivo debater as chamadas Soluções baseadas na Natureza, buscando entender seu significado e o seu impacto em relação às crises climática e de perda da biodiversidade, ao mesmo tempo em que busca analisar algumas das possíveis contradições que surgem na construção dessa agenda.

Participantes:

Secretária de Direitos Ambientais e Territoriais Indígenas do Ministério dos Povos Indígenas. Possui graduação em Licenciatura Intercultural Indígena do Sul da Mata Atlântica, com ênfase em Gestão Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catarina (2015). Atuou como professora e coordenadora pedagógica da Escola Indígena de Ensino Fundamental Itaty por 15 anos e possui vasta experiência na área de Gestão Ambiental e Ecologia, com ênfase em Ecologia de Ecossistemas e saneamento básico.

Estudante de biologia formada pela Universidade do Estado do Amazonas, é uma das vozes ativas da juventude indígena na atualidade e faz, do território virtual, um lugar de ativismo e educação.

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