Episódio 3 “Sistemas agroalimentares sustentáveis e segurança alimentar”
Sinopse: O sistema agroalimentar é entendido como constituído por processos que abrangem o fornecimento de produtos agropecuários às populações, incluindo também “o acesso à terra, à água e aos meios de produção, às formas de processamento, abastecimento, comercialização e distribuição, a escolha, preparo e consumo dos alimentos, até a geração e a destinação de resíduos” (Costa, Melo e Froehlich, s.d.). Fica evidente, desse modo, como os sistemas agroalimentares podem influenciar não somente a saúde coletiva – por exemplo, o acesso à alimentação saudável e a diminuição da ocorrência de determinadas doenças -, mas também a preservação do meio ambiente.
Em meio ao agravamento das mudanças do clima, que têm os eventos climáticos extremos como a ponta do iceberg, há um círculo vicioso: o modo como produzimos e distribuímos nossos alimentos influencia o padrão mundial do clima, ao mesmo tempo em que a emergência climática impacta negativamente a produção agropecuária, por exemplo, através da perda de produção, podendo então impactar a segurança alimentar das populações.
Para dar alguns números: o estudo “Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa dos Sistemas Alimentares no Brasil” (2023), organizado pelo Observatório do Clima, aponta que as cadeias produtivas alimentares responderam por 73,7% das emissões brutas de gases de efeito estufa (GEE) do Brasil em 2021¹. Globalmente, os sistemas alimentares respondem por 21% a 37% das emissões de GEE. Ainda, o estudo de Kotz et al. (2024) publicado na revista Communications Earth & Environment indica que as mudanças climáticas podem ameaçar a estabilidade dos preços dos alimentos, com a inflação sobre esses produtos podendo chegar a 3,2% ao ano até 2035.
Uma vez que, segundo definição da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a segurança alimentar “existe quando todas as pessoas, em todos os momentos, têm acesso físico e econômico a alimentos suficientes, seguros e nutritivos que atendam às suas necessidades e preferências alimentares para uma vida ativa e saudável” (FAO, 1996), é inequívoco que as mudanças climáticas vão aprofundar o cenário de insegurança alimentar a nível mundial, especialmente de populações socioeconomicamente mais vulneráveis.
Para garantir a segurança alimentar das populações, é fundamental, portanto, discutir caminhos para construir sistemas agroalimentares mais sustentáveis. A tendência é que as mudanças climáticas apenas agravem o estado atual – segundo relatório “O Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo (SOFI)” (2024) da ONU, em 2023, cerca de 2,33 bilhões de indivíduos no mundo enfrentavam insegurança alimentar moderada ou grave. O objetivo desse episódio é então situar essa problemática e discutir possibilidades que têm sido construídas nesse contexto, nacional e internacionalmente.
Talking points e perguntas:
Quais estratégias, inclusive em relação a políticas públicas, têm sido utilizadas para ajudar a tornar os sistemas agroalimentares mais resilientes às mudanças climáticas? Mais recentemente, temos ouvido falar do Plano ABC+. Vocês poderiam comentar a proposta?
Vocês podem falar um pouco sobre as relações entre sistemas agroalimentares, mudança do clima e segurança alimentar? Como esses elementos se influenciam mutuamente?
Algumas discussões têm apontado para a chamada “monotonia dos sistemas agroalimentares”. O que isso significa e como se relaciona com os contextos da mudança do clima e da segurança alimentar?
Em contraposição a essa noção de monotonia dos sistemas agroalimentares, a perspectiva da soberania alimentar aponta como fundamental a adequação dos sistemas agroalimentares aos hábitos alimentares das diferentes populações, ao manejo tradicional e ao plantio de sementes crioulas, por exemplo. Como têm se dado o diálogo e/ou embate entre essas duas perspectivas no Brasil?
Como conciliar pesquisa, inovação e ancestralidade em prol de sistemas agroalimentares mais sustentáveis e com responsabilidade socioambiental? Há alguma tensão a ser superada nesse processo?
¹ Ainda segundo o relatório do Observatório do Clima (2023, p. 39): “A maior parcela das emissões é proveniente do setor de Mudança de Uso da Terra e Florestas, o qual contabiliza o desmatamento, respondendo por 56,3% das emissões nacionais por sistemas alimentares, totalizando uma emissão de 1 GtCO2. Logo em seguida, com 33,7% de participação, aparece o setor de Agropecuária, com a totalidade de suas emissões em 2021 (600,8 GtCO2 e) sendo provenientes da produção de alimentos. Assim, somente esses dois setores corresponderam por 90% das emissões por sistemas alimentares.”
Participantes:
co-fundadora do Comida do Amanhã, arquiteta, mestre em planejamento e gestão urbana, e doutoranda na Universidade de Coimbra – Sociologia / Cidades e Culturas Urbanas. Conselheira da rede 50by40 e do Rio de Janeiro.
O Sr. Jorge Meza é de nacionalidade equatoriana, possui graduação em Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Paraná, especialização em Engenharia Econômica e mestrado em Silvicultura nos Trópicos e Subtrópicos pela Universidade de Göttingen, Alemanha.
Foi Oficial Florestal da FAO na Equipe Multidisciplinar Sul-Americana e Oficial Principal Florestal da FAO para a América Latina e o Caribe. Foi nomeado Representante da FAO no Paraguai, país no qual atuou simultaneamente como Coordenador Residente das Nações Unidas ad interim.
Atuou ainda como Ponto Focal da FAO para os países sul-americanos. Foi designado Secretário da Conferência Regional da FAO para a América Latina e o Caribe, e nomeado Representante Interino da FAO para a Argentina e o Uruguai, atuando também como Oficial Principal de Políticas no Escritório Regional da FAO para as Américas em Santiago, Chile.
Em janeiro de 2024 foi designado Representante da FAO no Brasil.