Episódio 5 “Mudanças Climáticas, Migração e Deslocamento”
Sinopse: Em 2024, o Sul do Brasil enfrentou as inundações mais devastadoras dos últimos 80 anos, transformando ruas em rios, isolando comunidades inteiras, deixando um rastro de destruição sem precedentes e deslocando cerca de 580 mil pessoas. Neste ano, a Amazônia, o maior reservatório de biodiversidade do mundo, está enfrentando a pior seca da história, com rios em níveis tão baixos que impedem a navegação. Em algumas regiões, o nível dos rios chegou a ficar até 13 metros abaixo do nível considerado normal para a época. O Nordeste viu a terra se transformar em pó. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), cerca de 13% do território do semiárido brasileiro está em risco de desertificação avançada. A desertificação forçou milhares a abandonar suas casas. A Defesa Civil dos estados do Nordeste e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) têm monitorado a situação das famílias afetadas pela seca. Estima-se que, até agora, em 2024, mais de 80 mil pessoas tenham sido deslocadas internamente devido à seca, buscando refúgio em áreas urbanas ou em outros estados.
Embora especialistas já alertem que até 216 milhões de pessoas podem ser deslocadas globalmente até 2050, o Brasil ainda não tem um plano para enfrentar essa realidade. Imagine cidades inteiras submersas pelo aumento do nível do mar – o Rio de Janeiro, uma das cidades mais icônicas do mundo, pode ter suas praias, cartões-postais e zonas residenciais de luxo varridas do mapa. Essa possibilidade não parece mais tão distante. O relatório “Mares agitados em um mundo aquecido”, divulgado no final de agosto pela Organização das Nações Unidas, alerta para uma elevação do nível do mar no Rio de Janeiro de até 21cm.
O Brasil está começando a se mobilizar para implementar medidas de adaptação às mudanças climáticas, por meio de iniciativas como o Plano Clima, o Grupo de Trabalho Interministerial sobre Clima, o Programa Nacional de Pagamentos por Serviços Ambientais e a revitalização do Fundo Clima, além de esforços para regulamentar o mercado de créditos de carbono e desenvolver infraestrutura resiliente. No entanto, essas ações, embora importantes, chegam com atraso significativo em comparação com a urgência da crise climática e os esforços realizados por outros países. A falta de uma estratégia consolidada por décadas e a fragmentação das políticas públicas colocam o Brasil em uma posição de grande vulnerabilidade, especialmente diante do aumento da frequência de eventos extremos, como secas severas e inundações, que já afetam drasticamente a população e a economia do país.
Este episódio vai mergulhar nas consequências diretas dessa falta de preparo, expondo como as mudanças climáticas podem literalmente redesenhar o mapa do Brasil e transformar a vida de milhões de pessoas. Vamos discutir o risco de que milhões de brasileiros se vejam envolvidos em situações climáticas extremas, sendo forçados a deixar suas casas, suas terras e suas fontes de subsistência destruídas pelo clima, sem destino certo. Também vamos discutir como as mudanças climáticas deverão afetar os fluxos de migrantes e pessoas deslocadas que acabam buscando uma nova vida no Brasil e em outras partes do mundo.
Talking points e perguntas:
O Plano Clima brasileiro está sendo elaborado desde o final de 2023 pelo Comitê Interministerial sobre Mudança do Clima e apresentará medidas para prevenir e lidar com danos causados pela mudança do clima. Como a migração e o deslocamento de fundo climático têm sido abordados nesse contexto?
Qual o contexto atual da migração e do deslocamento de fundo climático no Brasil e no mundo? Quais as projeções para o futuro, a curto e longo prazo?
Dados mostram que o Brasil está atrasado na adaptação urbana para eventos climáticos extremos. Como explicar o fato de que muitas cidades ainda não têm um sistema de alerta precoce eficaz ou mesmo infraestrutura adequada, quando eventos como enchentes e secas já têm um impacto recorrente na migração e no deslocamento forçado?
Em 2024, estima-se que mais de 80 mil pessoas foram deslocadas devido à seca no Nordeste, além das cerca de 580 mil no Sul com as enchentes de maio. Contudo, o Brasil ainda não desenvolveu políticas eficazes para lidar com a migração climática. Como isso pode nos impactar? A ausência de um plano claro pode levar a crises internas e desestabilização?
Quadro “Rádio Soberania e Clima”
“Estratégia Institucional sobre Migração, Meio Ambiente e Mudanças Climáticas 2021-2030” da Organização Internacional para as Migrações (OIM)
Antes da 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), a Organização Internacional para as Migrações (OIM) divulgou sua nova Estratégia Institucional sobre Migração, Meio Ambiente e Mudanças Climáticas 2021-2030. A Estratégia descreve como a OIM apoiará os Estados em seus esforços para ajudar e proteger aqueles, incluindo migrantes e deslocados internos, afetados pelos impactos adversos da mudança climática, degradação ambiental e calamidades consequentes de desastres naturais.
Participantes:
Doutor em Ciências Ambientais pela Universidade de São Paulo. Graduada em Direito pela Universidade Nacional do Altiplano (UNA) – Puno-Peru. Atualmente, está fazendo um pós-doutorado no Instituto de Energia e Ambiente (IEE), Universidade de São Paulo, sobre Segurança Hídrica e Mobilidade Humana. É pesquisadora da Rede Sul-Americana de Migração Ambiental (RESAMA) e trabalhou como consultora e colaboradora da Organização Internacional para as Migrações (OIM), do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), da Plataforma sobre Deslocamento por Desastres (PDD), do Instituto Interamericano de Direitos Humanos (IIDH) e da iniciativa MIEUX (MIgration EU eXpertise), implementada pelo Centro Internacional para o Desenvolvimento de Políticas Migratórias (ICMPD).
Jose A. Marengo possui graduação em Fisica y Meteorologia – Universidad Nacional Agraria (1981), mestrado em Ingenieria de Recursos de Agua y Tierra – Universidad Nacional Agraria (1987) em Lima, Peru e doutorado em Meteorologia – University of Wisconsin – Madison (1991) em EUA. Fez pós- doutorado na NASA-GISS e Columbia University em Nova York e na State University na Flórida (EUA), em modelagem climática. Foi coordenador científico da previsão climática do CPTEC INPE. É membro de vários painéis internacionais das Nações Unidas (IPCC, WMO) e membro de grupos de trabalho no Brasil e no exterior sobre mudanças de clima e mudanças globais. Consultor na área de estudos ambientais de mudanças globais, impactos, vulnerabilidade e adaptação as mudanças climáticas e parecerista de diversas revistas científicas e de agências financiadoras nacionais e internacionais. É autor de mais de 250 artigos, capítulos de livros, livros, relatórios técnicos e trabalhos de congressos. Atua como coordenador de projetos de pesquisa nacionais e internacionais, e já ocupou cargos administrativos no INPE onde foi Coordenador Geral do Centro de Ciência do Sistema Terrestre CCST de 2011-2014. Atualmente é membro do Comitê Científico do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas, CLA y RE dos Relatórios do IPCC AR5 GT1 e 2. Membro Titular da Academia Brasileira de Ciências, da Academia de Ciências do Estado de São Paulo, e da The World Academy of Sciences (TWAS). Também foi membro do Comitê Assessor de Ciências Ambientais do CNPq, e, atualmente, é editor associado do International Journal of Climatology e da Anis da Academia Brasileira de Ciências.