4ª temporada

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Episódio 4 “Saúde Global e Geopolítica”

Sinopse: A governança global para a saúde se caracteriza por envolver múltiplos atores como empresas, governos e organismos multilaterais, como a Organização Mundial da Saúde (OMS). A partir de seus próprios interesses, esses atores moldam as políticas públicas nacionais e impactam a saúde global, muitas vezes de maneiras que ultrapassam as fronteiras do setor de saúde. 

Uma questão crítica dentro dessa estrutura é o desequilíbrio de poder e a desconfiança nos mecanismos de governança global da saúde. A pandemia de COVID-19, por exemplo, mostrou como a competição entre as nações prejudicou a distribuição equitativa de vacinas, suscitando críticas quanto à capacidade da OMS de agir de maneira eficaz durante crises sanitárias. Nações do G7 priorizaram suas populações enquanto países de baixa renda, especialmente no Sul Global, ficaram para trás. Esse cenário tem alimentado debates sobre a necessidade de reformas profundas em organismos multilaterais, com o objetivo de garantir que eles possam servir melhor às necessidades globais de saúde de forma justa, equitativa e eficaz, sem amarras impostas por interesses específicos. Nesse contexto de competição geopolítica, a busca por um novo paradigma de colaboração internacional em temas de saúde torna-se, portanto, urgente.

Em cenários de guerra, são comuns interrupções generalizadas nos serviços de saúde, desde campanhas de vacinação até o tratamento de doenças crônicas e a prestação de cuidados maternos e infantis adequados. Países como Paquistão e Afeganistão, onde a pólio segue como doença endêmica, são exemplos claros das graves consequências de conflitos para a saúde pública. Além disso, em todo o mundo, os mais de 114 milhões de deslocados devido a conflitos enfrentam impactos significativos em sua saúde mental e em condições de vida precárias, o que facilita a propagação de doenças. E as consequências à saúde não se dão só nos locais onde o conflito ocorre: a guerra entre Rússia e Ucrânia, por exemplo, afetou o setor agrícola global, elevando o custo da produção de alimentos, com efeitos indiretos sobre a saúde e o bem-estar das populações em todo o mundo.

Dentre os debates que permeiam o nexo saúde global e geopolítica, perspectivas de colônias se tornaram uma questão premente, principalmente a partir da posição de países de baixa renda que cumprem um papel histórico de receptores de ajuda internacional. Nessa perspectiva, as influências coloniais podem ser observadas no acesso desigual a medicamentos, na precariedade da cobertura universal de saúde e na disparidade de representatividade em fóruns internacionais. Além disso, a produção de conhecimento, historicamente dominada por países ocidentais, também passa a ser questionada. Universidades e centros de pesquisa globais devem ser cada vez mais instados a priorizar conhecimentos locais, de modo que a pesquisa e as soluções em saúde não dependam apenas de interesses e metodologias de países desenvolvidos.

Complexificando esse cenário global marcado por desigualdades, a mudança do clima adiciona desafios presentes e futuros e contribui para o retrocesso de décadas de avanços no campo da saúde. A OMS alerta que os custos diretos da mudança do clima à saúde global estão estimados entre 2 a 4 bilhões de dólares por ano até 2030. Eventos climáticos e meteorológicos mais frequentes e intensos afetam a saúde tanto diretamente quanto indiretamente, aumentando os chamados “riscos de saúde sensíveis ao clima”, tais como doenças não transmissíveis, impactos à saúde mental, o surgimento e a propagação de doenças infecciosas e zoonoses, além de emergências de saúde. Entre 2030 e 2050, estima-se que a mudança do clima cause aproximadamente 250.000 mortes adicionais por ano, devido principalmente à desnutrição, malária, diarreia e estresse térmico. 

Sendo assim, reconhecer a interação entre saúde global e geopolítica significa reconhecer a influência de forças econômicas, políticas e sociais que, embora externas ao setor de saúde, impactam diretamente o setor, especialmente em países de baixa e média renda. A compreensão desses processos é crucial para se desenvolver uma governança global mais equitativa, apoiada por instituições multilaterais menos desiguais e que promova políticas de saúde que sejam inclusivas e eficazes em todos os países.

Talking points e perguntas:

  • Como os mecanismos de governança global podem promover uma mudança de paradigma, passando da disputa de interesses para esforços cooperativos no enfrentamento a desafios comuns de saúde?
  • Quais medidas podem ser adotadas para garantir fluxos de financiamento internacional que apoiem os países em desenvolvimento na construção de sistemas de saúde com acesso amplo e gratuito para a sua população?
  • Como a concentração de poder científico e tecnológico em países avançados e no setor privado afeta o amplo acesso a inovações na área da saúde? Qual o papel da cooperação científica internacional nesse processo?
  • Qual o futuro da saúde global num cenário internacional marcado pela disputa de interesses?
  • Como a mudança do clima afeta a saúde global? Qual deve ser o papel dos países desenvolvidos na redução desses impactos, especialmente considerando a desigualdade global em termos de causas e consequências da crise climática?

Quadro “Rádio Soberania e Clima”: O Instituto Ar é um think tank sem fins lucrativos que atua no enfrentamento da mudança climática e da poluição do ar pela perspectiva da saúde humana, por meio da produção de conhecimento e da mobilização da sociedade e das instituições.

Participantes:

Possui graduação em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1988), mestrado em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1995), doutorado em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva pela Fundação Oswaldo Cruz (2014). É professora Adjunta 3 da Universidade Federal do Rio de Janeiro, coordenou o Curso de Graduação em Defesa e Gestão Estratégica Internacional onde também integra o Laboratório de Estudos de Segurança e Defesa (LESD). Exerce atualmente a Coordenação Adjunta (vice-diretora) do Instituto de Relações Internacionais e Defesa (IRID/UFRJ) e a Coordenação de Extensão da Decania do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE/UFRJ). É membro titular do Conselho de Extensão Universitária da UFRJ. Tem experiência nas áreas de Defesa Nacional, Saúde Coletiva e Extensão Universitária atuando principalmente em Bioética, Aprimoramento Humano, Segurança Humana, Logística e Mobilização Nacional. 

É Médico Veterinário pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Mestre de Ciências pela Universidade de Montreal, Doutor em Saúde Pública pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), e tem Pós-doutorado em Saúde Global e Ambiental pela Universidade da Florida.

Atua como Professor e Pesquisador na Divisão de Extensão, Pesquisa e Pós-graduação (DEPPG-ESD) da Escola Superior de Defesa (Brasil).

3ª TEMPORADA