Episódio 6 “Oceanos e Mudança do Clima”
SINOPSE: Os oceanos, que cobrem 71% da superfície da Terra e contêm cerca de 97% da água do planeta, desempenham um papel crucial como o maior habitat do planeta, mas também no contexto de regulação do clima planetário, influenciando diretamente a disponibilidade de alimentos e a economia global. A dependência humana em relação aos oceanos é tanto direta quanto indireta.
Desde a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio+20, realizada em 2012 no Rio de Janeiro, esforços têm sido mobilizados pela ONU para destacar o papel essencial dos oceanos na regulação climática do planeta. O Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 14, estabelecido em 2015, é dedicado a “Conservar e usar de forma sustentável os oceanos, mares e os recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável”. A primeira Conferência Internacional sobre Oceanos da ONU, em 2017, teve como objetivo avançar na implementação do ODS 14, e o período de 2021 a 2030 foi designado como a Década do Oceano.
O mais recente relatório especial do IPCC sobre Oceanos e a Criosfera, lançado em 2019, evidencia que, em um cenário de mudanças climáticas, os oceanos têm absorvido mais de 90% do excesso de calor do sistema climático e 30% das emissões de CO2 geradas pelo homem. Este processo, contudo, tem um alto custo para o meio ambiente e afeta os oceanos de três formas principais: elevação do nível do mar, aquecimento dos oceanos e acidificação.
A elevação do nível do mar, que atingiu um recorde em 2022 com uma média anual de 4,4 mm entre 2013 e 2022, tem se acelerado nas últimas três décadas, principalmente devido ao derretimento acelerado das geleiras e das calotas polares. Este fenômeno representa uma ameaça iminente para ilhas e cidades costeiras, afetando aproximadamente 10% da população mundial, cerca de 680 milhões de pessoas. A ilha de Tuvalu, no Pacífico, está entre os primeiros países que poderiam desaparecer completamente devido às mudanças climáticas.
O aquecimento dos oceanos, exacerbado pelos gases de efeito estufa, também altera os padrões meteorológicos globais, levando à intensificação de eventos climáticos extremos. Este fenômeno impacta adversamente os ecossistemas marinhos, aumentando a mortalidade e o deslocamento de espécies, além de afetar a cadeia alimentar marinha. Ao longo do último século, observou-se um aumento consistente na temperatura da superfície dos oceanos, com uma taxa média de elevação de 0,11°C por década. Estudos recentes, divulgados no início de 2024, indicam que o aquecimento dos oceanos atingiu marcas recordes em 2023, marcando o quinto ano consecutivo de recordes de temperatura. Especialistas projetam que essa tendência de aquecimento persistirá ao longo do século, independentemente de uma possível interrupção nas emissões dos gases de efeito estufa. Aproximadamente 50% do aumento observado no nível do mar atualmente pode ser atribuído à expansão térmica dos oceanos, que ocorre à medida que as águas se aquecem.
A acidificação dos oceanos, decorrente da absorção de dióxido de carbono, tem efeitos devastadores na biodiversidade marinha, como a degradação de recifes de coral e o branqueamento de corais, afetando negativamente os ecossistemas marinhos e a produção alimentar, com significativas implicações econômicas e sociais, especialmente para as comunidades dependentes da pesca e maricultura.
O IPCC enfatiza que a única forma de mitigar esses impactos é por meio de reduções profundas, rápidas e sustentadas nas emissões de gases de efeito estufa, limitando assim a elevação adicional do nível do mar e os comprometimentos de longo prazo associados.
“Limitar a temperatura global da superfície não impede mudanças contínuas nos componentes do sistema climático que têm escalas de tempo de resposta de várias décadas ou mais. A elevação do nível do mar é inevitável por séculos a milênios devido ao contínuo aquecimento do oceano profundo e ao derretimento das calotas polares, e os níveis do mar permanecerão elevados por milhares de anos. No entanto, reduções profundas, rápidas e sustentadas nas emissões de gases de efeito estufa limitariam a aceleração adicional da elevação do nível do mar e o comprometimento do aumento do nível do mar a longo prazo.” (IPCC, 2019)
Apesar dos desafios apresentados, os oceanos detêm potencial significativo para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas, oferecendo estratégias eficazes para atenuar a crise ambiental. As soluções baseadas nos oceanos, incluindo a geração de energia renovável offshore e a restauração de ecossistemas costeiros, emergem como oportunidades valiosas para promover o desenvolvimento econômico e social sustentável. Notavelmente, os oceanos constituem uma fonte essencial de energia renovável, por meio da energia eólica offshore e da energia oceânica, ambas oriundas de recursos naturais como o vento, a água e as marés. Estas fontes de energia têm a vantagem de não emitir dióxido de carbono nem outros gases de efeito estufa que exacerbam o aquecimento global, reforçando o papel dos oceanos como aliados vitais na transição para uma economia de baixo carbono.
A Coalizão pela Governança do Oceano, iniciativa do Pacto Global da ONU, visa desenvolver estruturas para que as empresas contribuam positivamente para a saúde dos oceanos, atuando em áreas como a descarbonização do transporte marítimo. Considerando que 80% do comércio mundial é realizado por via marítima, responsável por quase 3% das emissões globais de gases de efeito estufa, a redução dessas emissões torna-se crucial na luta contra as mudanças climáticas.
Participantes:
Professora Associada da Universidade de Brasília no Instituto de Relações Internacionais desde 2002. Professora na Escola Superior de Defesa (ESD). Líder do projeto Blue Earth system Governance, sobre diplomacia polar e governança do oceano. Coordenadora da Pós-graduação de 2016 a 2020. Diretora do Brasilia Research Centre do Earth System Governance (2020-2023). Senior Research Fellow e Membro da Ocean Task Force da Rede Earth System Governance. Pesquisadora do Centro de Estudos Globais. Conselheira do Women Leaders for Planetary Health, Alemanha. WoS Research ID: H-3925-2018. Membro do PPGMar da SECIRM.Realizou pós-doutorado no CERIC (Centre dEtudes et de Recherches Internationales et Communautaires ) da Universidade Aix Marseille (França) no âmbito do Edital Mar II da CAPES, Projeto A estratégia brasileira para a gestão sustentável dos recursos vivos e não vivos marinhos”, com bolsa da CAPES (Programas Estratégicos – DRI).Doutora e Mestre em Relações internacionais – Université de Paris I (Panthéon-Sorbonne). Foi Chefe da Assessoria de Assuntos Internacionais da UnB de 2008 a 2014
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J.C. Simões, professor titular de Glaciologia e Geografia Polar da UFRGS, membro titular da Academia Brasileira de Ciências e Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico, é o pioneiro da ciência glaciológica no Brasil. Atualmente é Vice-Presidente do Scientific Committee on Antarctic Research/Conselho Internacional de Ciências (SCAR/ISC) e Vice-Pró-Reitor de Pesquisa da UFRGS. Ele obteve seu PhD pelo Scott Polar Research Institute, University of Cambridge, Inglaterra, em 1990. É pós-doutor pelo Laboratoire de Glaciologie et Géophysique de lEnvironnement (LGGE) du CNRS/França e pelo Climate Change Institute (CCI), University of Maine, EUA. Leciona e orienta alunos de graduação e pós-graduação em Geociências e Geografia (43 dissertações de mestrado e 22 teses de doutorado aprovadas). Toda sua carreira foi dedicada às Regiões Polares, tendo publicado 230 artigos científicos, principalmente sobre processos criosféricos. Pesquisador do Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR). É consultor ad-hoc da National Science Foundation – NSF (Office of Polar Programs). Simões já participou de 28 expedições científicas às duas regiões polares, criou o Centro Polar e Climático da UFRGS, a instituição que lidera no Brasil a pesquisa sobre a neve e o gelo. Ele coordena a participação brasileira nas investigações de testemunhos de gelo antárticos e andinos e faz parte do comitê gestor da iniciativa International Partnerships in Ice Core Sciences (IPICS). Recebeu o Prêmio Pesquisador Destaque da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (FAPERGS) por sua contribuição à pesquisa antártica. Atualmente é o coordenador-geral do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Criosfera (INCT da Criosfera) e professor colaborador do CCI/University of Maine, Orono, EUA. No verão de 2011/2012 liderou a expedição que instalou o laboratório científico latino-americano mais ao sul do Planeta, o módulo Criosfera 1 (84S, 79,5W) e em 2022/2023 a expedição que instalou o módulo Criosfera 2.