Episódio 4 “Atividade de Inteligência e Mudança do Clima”
SINOPSE: A atividade de inteligência, que tem como objetivo a “obtenção (antecipada) e análise de dados, produção de conhecimentos e proteção de conhecimentos para o país” (Brasil, 2020), é fundamental para a segurança e a defesa de uma nação. E no contexto marcado pelo agravamento das mudanças climáticas, tem se tornado cada vez mais importante para a garantia da segurança ambiental e climática e da soberania nacional.
No Brasil, a atividade de inteligência tem atuação fundamental nos contextos de combate à biopirataria, de proteção do meio ambiente e da biodiversidade e, logo, de proteção do interesse nacional. A criminalidade, sobretudo na Amazônia, onde crime organizado e crime ambiental se sobrepõem, tem sido objeto de monitoramento por parte dos órgãos de inteligência brasileiros, que atuam estrategicamente, “se atentando às rotas e às tendências de expansão e de internacionalização” (Mattos, 2024, p. 19). Esse acompanhamento, análise e disponibilização de dados são vitais para antecipar e mitigar riscos e vulnerabilidades associados à segurança ambiental, climática e humana, subsidiando a tomada de decisão.
As mudanças climáticas têm sido integradas às agendas de inteligência em todo o mundo. Como aponta Luiz Fernando Corrêa, diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), a inteligência é ferramenta essencial para a segurança ambiental e na garantia da soberania nacional e, nesse sentido, “a destruição de áreas florestais, as mudanças climáticas e os desastres naturais representam desafios para a Inteligência de Estado. Esses são pontos de preocupação com crescente importância para a defesa e segurança de uma nação, por isso a salvaguarda de nossos recursos naturais é de interesse da Inteligência” (ABIN, 2023).
Ainda segundo Corrêa, no Brasil, a mudança do clima, junto com o extremismo e a segurança cibernética, constituem atualmente os três eixos centrais de atuação da ABIN, que é o principal órgão do Sistema Brasileiro de Inteligência (SISBIN) (Chiaretti, 2023). No eixo mudança do clima, ainda se destacam os temas segurança alimentar e impacto na economia (Chiaretti, 2023) – fundamentais para o país, sobretudo tendo em vista a importância da agricultura para a balança comercial brasileira e os possíveis impactos causados por eventos climáticos extremos sobre a atividade.
Nesse contexto, é possível notar que a atividade de inteligência compõe o mosaico de ações do Estado necessárias à construção de resiliência nacional. A obtenção antecipada de dados, a análise dos mesmos, e o uso dessas informações pelos diferentes setores do governo permite a identificação de riscos presentes e futuros, o mapeamento de vulnerabilidades e a tomada de ações correspondentes para a superação desses desafios. A atividade de inteligência para fins climáticos possui, portanto, papel estratégico para a proteção dos recursos naturais, da segurança de nossas infraestruturas e, desse modo, para a garantia da soberania nacional.
Participantes:
Manoelle Paiva, chefe da Divisão de Inteligência do ICMBIO. Especialista em Economia Agrobioindustrial pela Universidade Federal do Pará.Tem experiências em Gestão de Áreas Protegidas nas Temáticas de Uso Público e Negócios, Turismo de Base Comunitária, Ordenamento de Recursos Naturais, Fiscalização Ambiental e Fiscalização de Contratos de Concessão Público Privada.
Antonio Muniz
Oficial de Inteligência durante 37 anos e está aposentado desde 2016.Na Abin foi secretário de Planejamento e Gestão (2016 a 2019), diretor do Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (2014-2015) e diretor do Departamento de Administração (2004-2008). Foi Coordenador de Tecnologia do Centro de Inteligência Regional/RJ da Conferência Rio+20 (2012). Foi diretor-presidente da Empresa de Processamento de Dados do Espírito Santo (2003-2004) e diretor-presidente da Associação das Empresas de Processamento de Dados Estaduais (2003-2004).